Carta de Tiago - Primeiros Versículos

 

Tiago, 1: 1 a 8


 

Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão; saudações.

Meus irmãos, tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações, pois sabeis que a vossa fé, bem provada, leva à paciência; mas é preciso que a paciência produza uma obra perfeita, a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência.

Se alguém dentre vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos, sem recriminações, e ela ser-lhe-á dada, contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento. Não pense tal pessoa que vai receber alguma coisa do Senhor, dúbio e inconstante como é em tudo o que faz.

Tiago, servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, às doze tribos da Dispersão; saudações.

O autor desta carta se revela logo no primeiro versículo, é Tiago.

Mas quem seria esse Tiago? Não pode ser o irmão de João, o filho de Zebedeu, pois este desencarnou antes desta carta ser escrita. É então Tiago menor, o filho de Alfeu (Mt, 10: 3), irmão de Judas (Jd, 1: 1)?

Paulo diz que é o irmão do Senhor (Gl, 1: 19), e lhe chama de “coluna da igreja” (Gl, 2: 9); ao que tudo indica sua mãe chamava Maria (Mt, 27: 56) e era parenta da mãe de Jesus, talvez irmã. Provavelmente esteja aí o motivo de Paulo dizer que era o irmão do Senhor, é que àquele tempo os primos de primeiro grau eram tratados como irmãos.

Para Emmanuel (cf. livro Paulo e Estevão), era Tiago filho de Alfeu, e irmão de Levi. Para Humberto de Campos sua mãe chamava Cleofas, seu Pai era mesmo Alfeu e era irmão de Levi e de Tadeu.1

Ainda segundo alguns estudiosos este Tiago seria um terceiro Tiago, irmão de Jesus (cf. Mt, 13: 55) e que só teria se convertido ao cristianismo depois do episódio da ressurreição, teria desde então assumido a liderança do movimento junto com Pedro e João. Josefo, historiador judeu do Século I, afirma ser Tiago, irmão de Jesus e que foi martirizado no ano 62 a. C..

Há ainda outra dificuldade para estabelecer o autor desta carta, é que ela foi escrita em um grego elegante e rico em vocabulário, o que não era comum em um galileu.

Seja lá como for Orígenes cita esta epístola como escritura inspirada.

Para a nossa análise onde o que mais importa é conteúdo reeducativo do texto, cabe o destaque de que Tiago se denominava servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo.

O Evangelho de Jesus nos mostra a todo instante que o objetivo do Cristo era educar o Espírito em trânsito na Terra a fim de que ele se ajustasse à necessidade de maior espiritualidade.

O meio para que isto se efetivasse como conquista do Ser imortal, é que este estivesse em conexão com as inteligências do Alto e buscasse no seu dia a dia aplicar o aprendido em seu campo de ação com aqueles que lhe fossem próximos.

Amar e servir estes os verbos que mais deveriam ser praticados pelos seguidores do Messias.

Ao se qualificar como servo de Deus e do Senhor Jesus Cristo, Tiago mostra que compreendeu a lição e no decorrer do texto tanto quanto no da vida daquele que Emmanuel diz ser o irmão de Levi, vamos ver que ele tinha autoridade para assim dizer.

Dois mil anos se passaram, nós demos muitas voltas em nossa trajetória evolutiva na busca daquilo que denominamos felicidade. Hoje compreendemos que ela está mais em dar do que em receber, mais em servir do que em ser servido, mais em amar do que ser amado; porém, será que com a mesma naturalidade do companheiro de Simão Pedro podemos nos qualificar de servos de Deus e do Senhor Jesus Cristo?

Concluindo este primeiro versículo o autor mostra que dirige este texto às doze tribos da dispersão.

Dispersão vem do grego diáspora, que designava os judeus emigrados da palestina. As doze tribos eram a totalidade do povo judeu.

Na carta Tiago usa esta expressão talvez se dirigindo aos judeus-cristãos espalhados pelo mundo Greco-romano, ou ainda, a todos os cristãos de um modo geral.

Analisando o número doze em seu sentido de completude, e a profundidade do conteúdo desta epístola, podemos com segurança dizer que ela foi conservada sob a orientação dos Espíritos Superiores no cânone neo-testamentário, endereçada a todos nós cristãos de todas as eras que buscamos o nosso aperfeiçoamento moral em busca de nos tornarmos homens de Bem sob a égide do Cristo de Deus.

Meus irmãos, tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações…

Meus irmãos; mostra o carinho com os seguidores do Evangelho, nisto todos conhecerão que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros2, havia ensinado o Mestre, necessário era que todos fossem tratados com muito afeto.

Irmão é palavra comum na boca de muitos cristãos ao se referirem aos confrades, porém, tão poucos dizem assim usando esta expressão em seu verdadeiro sentido segundo a entendia Jesus.

Uma das dificuldades que os estudiosos desta carta tiveram foi estabelecer a data em que ela foi escrita. Para uns, hoje menos comuns, ela foi escrita entre os anos 45 e 50 de nossa era. Seria assim um dos primeiros escritos do Novo Testamento. Para outros, data a carta do final da vida do apóstolo.

Nós não temos autoridade para opinar sobre o assunto, porém vemos neste texto um amadurecimento tal de seu autor que é pouco provável a primeira hipótese, ou seja, a da data mais antiga.

O texto da epístola em muitos momentos é muito parecido com o da mensagem do Sermão do Monte, mostra um Tiago burilado pelas provações, provações estas que trabalharam nele a paciência como veremos mais adiante.

Neste versículo mesmo que ora comentamos, ele usa do artifício usado por Jesus, que é o de impactar com um pensamento estranho para os homens de sua época, e até mesmo para os de nossa era.

Tendo por motivo de grande alegria o serdes submetidos a múltiplas provações; este não é um pensamento facilmente aceito, quem pode ter alegria por ser submetido a múltiplas provações?

No entanto, o Espírito maduro, o cristão autêntico, sabe que aqui não viemos a passeio, mas para promover nossas possibilidades espirituais, e que estas só desabrocham através de muita luta e esforços consideráveis.

Portanto, se o objetivo é o crescimento espiritual, a promoção moral, e esta condição só é alcançada apósmúltiplas provações, este acontecimento é motivo de grande alegria; raciocínio puro e lógico, digno do bom senso kardequiano.

Aliás, esta é a mesma mensagem que encontramos em outros evangelistas:

Na vossa paciência, possuí a vossa alma.3

E não somente isto, mas também nos gloriamos nas tribulações, sabendo que a tribulação produz a paciência; e a paciência, a experiência; e a experiência, a esperança.4

e sofreste e tens paciência; e trabalhaste pelo meu nome e não te cansaste.5

Aqui está a paciência dos santos; aqui estão os que guardam os mandamentos de Deus e a fé em Jesus.6

pois sabeis que a vossa fé, bem provada, leva à paciência; mas é preciso que a paciência produza uma obra perfeita, a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência.

Este versículo traça o projeto de evolução desejado.

Àquele tempo ele falava para judeus convertidos ao Cristo. Ninguém mais do que o povo judeu sabia o valor das provações. Este foi um povo que sofreu; e os que tiveram a compreensão de Jesus como sendo o Messias que libertava pela transformação moral, foram os que aproveitaram as provações na edificação de sua fé. Assim, a expressão pois sabeis…, é bastante coerente no texto.

Nós temos aprendido isto também à custa de muitas dores. O Evangelho traz para nós a possibilidade de participar deste sabeis, minorando os nossos sofrimentos. Cabe a cada um de nós “não recalcitrar contra os aguilhões.”

Como dissemos, este versículo traz para nós o projeto de evolução desejado. É que o Alto quer para nós a vitória espiritual, assim, nos envia Espíritos, que como Tiago, pela instrução encurta-nos o caminho evolutivo adiantando-nos o progresso.

A vossa fé, bem provada, leva à paciência; a fé já foi dito, é força que nasce com a própria alma, certeza instintiva na Sabedoria de Deus…7 Podemos dizer que a fé é a lembrança da presença de Deus em nós. Ela existe em todas as criaturas, porém, é desperta através da evolução, e cada um a tem num determinado grau de acordo com suas conquistas individuais.

Do mesmo modo que o aluno matriculado em uma escola precisa se exercitar para fixar a lição, precisa da prova para sua promoção, o Espírito, que é um aluno da escola da vida, precisa exercitar a sua fé para fazê-la crescer e esta precisa ser provada, e bem provada, para projetar o Espírito em níveis mais elevados. Portanto, a fé bem provada produz a paciência, que é conquista daqueles que já se elevaram a um patamar de maior espiritualidade.

A paciência, que é a ciência da paz, ou ciência da pá (significando instrumento de trabalho), já dissemos, é conquista do Espírito e é uma conquista imprescindível para a evolução.

A vida vinculada a mundos materiais é um instrumento didático para trazer ao Ser criado por Deus a verdadeira educação, que nada mais é do que o despertamento de possibilidades espirituais nele existentes. Contudo é preciso compreender que este processo é lento, é como o cultivo de uma determinada semente. Ela é lançada ao solo e só após um processo que demanda tempo e perseverante trabalho transforma-se em fruto útil para alimentação do homem. O Educador é como o lavrador, e do mesmo modo que para este a paciência é uma necessidade, também é para aquele. E não esqueçamos, todos somos educadores, de outros Espíritos, e principalmente de nós mesmos. Como consequência precisaremos sempre deste valioso recurso: paciência; portanto, alegremo-nos ao sermos submetidos às múltiplas provações.

Todavia o apóstolo vai mais além, só ter paciência não basta, é preciso que ela produza uma obra perfeita. É que a paciência ainda é um meio, não o fim. Há grandes Espíritos que ainda não despertaram para o bem que são já pacientes, e que também usam este recurso para atingirem os seus fins. Toda virtude tem de ter produtividade no campo do bem, se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!8 Ensinou Jesus.

Portanto, busquemos produzir uma obra perfeita, não com preciosismo ou perfeccionismo, mas em tudo que fizermos, fazer bem feito, este tem que ser o diferencial do cristão verdadeiro, e acima de tudo que a obra mais importante que fazemos, que é a nossa própria iluminação, seja esta também uma obra de perfeição. Este é o recado do final do versículo:

a fim de serdes perfeitos e íntegros sem nenhuma deficiência.

Mensagem semelhante nos deixou Jesus no “Cantar do Monte”:

Sede vós, pois, perfeitos, como é perfeito o vosso Pai, que está nos céus.9

Ninguém pode no estágio atual de nossa evolução exigir de si mesmo a perfeição, porém podemos exigir aperfeiçoamento, ser a cada dia melhor.

No mais a lição do Mestre é de grande sabedoria; ao nos instruir a ser perfeito como o vosso Pai, Jesus se referia ao entendimento de cada um a respeito do Pai, portanto, é cada um ser perfeito dentro de suas possibilidades, só que sem comodismo. À medida que formos evoluindo, compreendendo melhor a natureza divina, que nos façamos também melhor, sempre perfeitos, íntegros, conforme a perfeição de nosso Pai.

Tiago nos propõe uma melhoria continuada. Compreendamos as nossas provações (que muitas vezes são tribulações), trabalhando a nossa fé, assim geraremos a paciência que nos faz perseverar na construção do homem de bem, a obra perfeita que o Criador espera que um dia sejamos, sem nenhuma deficiência.

Se alguém dentre vós tem falta de sabedoria, peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos, sem recriminações…

O autor desta carta sabia que mesmo entre os irmãos de fé muitos não tinham esta compreensão superior. Esta primeira frase deste versículo talvez seja um chamamento de atenção para estes.

Sabedoria aqui não significa capacidade intelectual, há muitos sábios no mundo que são verdadeiros mendigos na espiritualidade. Aliás, já neste tempo Paulo afirmara:

Onde está o sábio? Onde está o escriba? Onde está o inquiridor deste século? Porventura, não tornou Deus louca a sabedoria deste mundo?10

Portanto, sabedoria significa amadurecimento espiritual, ter ciência de algo invisível aos olhos.

A literatura judaica anterior ao Novo Testamento já dizia:

Pois é IHVH quem dá a sabedoria; de sua boca procedem o conhecimento e o entendimento.11

E Salomão com toda a sua sensibilidade escreve sobre a sabedoria:

Ao me dar conta de que somente a ganharia, se Deus me concedesse – e já era um sinal de entendimento saber a origem desta graça -, dirigi-me ao Senhor e rezei, dizendo de todo o coração:

Deus dos pais, Senhor de misericórdia, que tudo criaste com tua palavra e com tua sabedoria formaste o homem para dominar as criaturas que fizeste, governar o mundo com justiça e santidade e exercer o julgamento com retidão de vida, dá-me a sabedoria contigo entronizada e não me excluas do número de teus filhos.12

Portanto era uma crença dos sábios judeus que a sabedoria autêntica era dada somente por Deus, significando assim algo espiritual, além do domínio da matéria. Por isso é que Tiago escreve: peça-a a Deus, que a concede generosamente a todos…

Generosamente significando sem condicionantes, a todos os que quiserem, simplesmente se ajustando aos Seus Sábios desígnios.

Porém, aqui cabe uma questão: Como Deus dá a sabedoria? Não somos nós quem a conquistamos?

Sim, somos nós quem a conquistamos, porém, só se tivermos a humildade de saber que ela vem de Deus através das oportunidades de vida, das experiências que promovem o amadurecimento, experiências estas que podem significar tribulações para despertar em nós os valores do espírito. São as vidas sucessivas, a reencarnação promovendo a oportunidade de reajuste e a glória de melhor servir.

Assim, se tivermos falta de sabedoria, peçamos a Deus como fez Salomão, e Ele dará, nos informa o filho de Alfeu, generosamente.

Ainda vai mais além o apóstolo, Deus a concedesem recriminações.

A teologia cristã após ter se tornado religião oficial impôs às nossas mentes a questão do pecado, da culpa, e consequentemente do castigo. Assim, apesar de Jesus ter nos mostrado um Pai que é Amor e Misericórdia, insistimos no nosso entendimento de um Deus que pune, que condena, que recrimina. Esta não era a idéia daqueles que estiveram próximos de Jesus.

A Doutrina Espírita ao ampliar nossa compreensão de Deus nos mostra que Ele nem perdoa nem condena, Deus simplesmente dá a oportunidade de reconstruirmos o que foi destruído. Assim, tudo nos provê generosamente,concedendo-nos a oportunidade de nos fazermos sábios, sem recriminações. Apenas, por ampliar a nossa consciência, pois a evolução é o despertamento desta, nos faz mais responsáveis à medida que nos entendemos como partícipes da criação imortal.

… e ela ser-lhe-á dada contanto que peça com fé, sem duvidar, porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento.

E ela ser-lhe-á dada contanto que peça com fé, sem duvidar; fé em grego é pistis, que quer dizer convicção. Convicção que expressa confiança e fidelidade. Portanto, dizer para se ter fé sem duvidar é algo redundante, pois o que tem fé não duvida jamais.

Porém é preciso compreendermos que a literatura evangélica usa destes artifícios para fortalecer o entendimento, às vezes repete, outras reforça, ou ainda, de outras vezes diz a mesma coisa de um modo diferente. É a didática de Jesus, para que todos entendam claramente.

O autor desta carta coloca como condicionante para receber sabedoria, que peça com fé, sem duvidar, porque na dinâmica universal tudo é dado conforme ele mesmo afirmou, generosamente, mas não gratuitamente. Há de se ter o esforço da conquista.

O saber intelectual, que é a sabedoria do mundo, é passado de pessoa a pessoa, uns transmitem-no aos outros; a sabedoria essencial, que é patrimônio inarredável do Espírito, não pode ser transmitida, ela é como a luz do sol, está disponível para todos, contudo, do mesmo modo que para perceber a claridade do astro rei é preciso abrir a janela de nossa residência, para recebermos a sabedoria é preciso realizar o esforço da fé operacional sintonizada com o Movimento Divino que vibra em toda a criação.

Assim, pedir com fé, sem duvidar, é aplicar os recursos que se tem, fixando-os como conquista, mesmo diante de toda sorte de dificuldades, perseverando. Os talentos bem gerenciados serão seguramente acrescidos de outros, esta aí a dinâmica da conquista de sabedoria.

porque aquele que duvida é semelhante às ondas do mar, impelidas e agitadas pelo vento. Jesus ao falar de João Batista disse que ele não era uma cana agitada pelo vento.13 Referindo-se o Mestre à sua capacidade de constância, de fidelidade, de firmeza. Ele sabia que podia contar com o Batista.

João Batista representa exatamente aquele que já está pronto para mudar de paradigma, da ética da justiça para a do amor. Este que já se acha nesta condição, não é mais aquele de caráter volúvel, de duas faces, que ora age de um jeito ora de outro.

Paulo ao dizer deste estado ideal do discípulo, assim se expressa:

para que não sejamos mais meninos inconstantes, levados em roda por todo vento de doutrina, pelo engano dos homens que, com astúcia, enganam fraudulosamente.14

Assim, se quisermos participar do banquete celestial que o Evangelho representa como alimento para as nossas almas, cultivemos a perseverança e a constância em seus princípios, entendendo-os e vivenciando-os. Não há espaço para aquele que duvida na seara do Senhor. O trabalho é amplo, mas os trabalhadores são poucos justamente por isso, o Senhor da Seara quer contar com aqueles que Ele sabe que estão preparados para o labor.

Neste sentido voltamos a versículo já comentado, só aquele que já teve sua fé provada, e que conquistou a perseverança, que aqui funciona como a “túnica nupcial” é digno de permanecer no banquete.

NÃO PENSE TAL PESSOA QUE VAI RECEBER ALGUMA COISA do SENHOR, DÚBIO E INCONSTANTE COMO É EM TUDO O QUE FAZ.

Não pense tal pessoa que vai receber alguma coisa do Senhor; o verbo receber não diz respeito àquele que doa, mas ao que acolhe. Deus é eternamente Doador. Jesus já ensinara, e seus discípulos da primeira hora já sabiam, que o Criador é em Sua essência, Amor.

Portanto, ele dá constantemente a todos, mas para que qualquer um de nós receba, é preciso entrar em comunhão com Ele. Sendo Deus imaterial, é constante, Nele não há variação. Assim, para entrarmos em Seu campo gravitacional, se é que podemos usar esta expressão em relação ao Criador, é preciso que também tenhamos o mínimo de constância exigido para a condição de filho consciente, ou seja, que saibamos o que queremos, que não estejamos divididos entre Deus e mamon, ou, entre os valores da alma e os do mundo.

Na nossa própria vida, mesmo em se tratando só deste momento reencarnatório, percebemos a presença da Providência a nos abastecer de todos os recursos necessários para que atinjamos os objetivos traçados pelo Alto, todavia, não é raro adentrarmos pelo caminho do inconformismo quando surgem pequenas dificuldades que como já vimos não passam de testes verificadores de nossa condição atual com vistas a possível promoção.

Dúbio e inconstante…; “dúbio e inconstante” aqui não quer dizer simplesmente alguém volúvel, mas aquele que está de alma divida, de interesses divididos, conforme expressa o grego dipsuchos; ou seja, aquele que ora vê os interesses de sua evolução espiritual, ora o dos interesses do mundo. Aquele que escolhe o que é mais conveniente para o momento.

Isto em nosso meio cristão é muito mais comum do que possa parecer. Em nossa própria intimidade estes dois caminhos se manifestam constantemente.

O cristão autêntico e verdadeiro, não é aquele que age consoante os ensinamentos do Senhor só no templo de sua fé, ou quando de encontro com os afins. A atitude renovadora do Evangelho tem que estar presente a toda hora, no trabalho, na escola, no lar, e principalmente quando estamos exercendo posições de destaque e de liderança nas atividades comuns.

Vemos assim que esta exigência, que hoje muitas vezes é tida como fanatismo, já era clara nos primeiros dias do cristianismo nascente. É que estes Espíritos que vieram auxiliar o Cristo na divulgação da Boa Nova, apesar de vestidos de homens rústicos e simples, tinham profundo conhecimento da psicologia humana e sabiam quais eram as fraquezas comuns que podiam desviar-nos do reto agir.

como é em tudo o que faz; não há como dissociar o que fazemos do que somos. Muitas vezes conseguimos enganar ajudados que somos pela falta de sentido mais amplo que é comum no plano material a que estamos provisoriamente ajustados. Todavia este engano vigora por pouco tempo, mais cedo ou mais tarde caímos do cavalo e a fantasia é removida.

Como nós, já espiritualistas, sabemos da continuidade da vida, e que esta tem por medida a eternidade, é justo que preocupemos com o que somos; mas lembremos que este ser é o somatório de tudo o que fazemos, nos mínimos detalhes. Assim, nos preocupemos em fazer o bem, mas também em fazer bem, movidos pelo sentimento agradável a Deus de bondade.

Manifestamos-nos deste modo, não por preciosismo, até porque o perfeccionismo na maioria das vezes atrasa o trabalho edificante, mas por saber que o interesse mundano ainda reina mesmo dentre os que divulgam a necessidade do serviço ao semelhante. A questão é de sutileza, mas é preciso ter o sentimento que estamos avançando, e avançando para a obra perfeita, aquela que o próprio missivista diz ser sem nenhuma deficiência.

Pois como nos lembra o apóstolo da gentilidade em várias de suas cartas, é ao Cristo que estamos servindo e a Ele tudo deve ser feito da melhor forma possível.

1 Boa Nova, cap. 5

2 João, 13: 35

3 Lucas, 21: 19

4 Romanos, 5: 3 e 4

5 Apocalipse, 2: 3

6 Apocalipse, 14: 12

7 Pensamento e Vida, cap. 6

8 Mateus, 6: 23

9 Mateus, 5: 48

10 1 Coríntios, 1: 20

11 Provérbios, 2: 6

12 Sabedoria, 8: 21 e 9: 1 a 4

13 Cf. Mateus, 11: 7

14 Efésios, 4: 14