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Prosperidade

23/07/2012 17:45

Mas buscai primeiro o Reino de Deus, e a sua justiça, e todas essas coisas vos serão acrescentadas.1

Tem sido muito comum nos meios de divulgação evangélica, principalmente entre aqueles ligados a núcleos mais tradicionais do cristianismo, e mesmo entre outros de conotação espiritualista, a veiculação da ideia de que a vivência evangélica e a adesão à proposta de Jesus nos leva à prosperidade.

Com isto têm-se feito cultos e reuniões voltadas para este objetivo sendo ensinado que aquele que manifestar sua fé no Senhor e aderir à proposta da instituição divulgadora da mensagem, terá como prêmio o amplo sucesso em sua vida.

Terá base evangélica esta afirmativa? Será que podemos dizer que o Evangelho tem por objetivo a prosperidade de seu seguidor?

Para que possamos melhor dissertar sobre o assunto necessário se faz trabalharmos os conceitos adequados.

Prosperidade é segundo anotações do dicionarista estado do que é ou se torna próspero; grande produção de alimentos e bens de consumo; abundância, fartura, acúmulo de bens materiais; fortuna, riqueza.2

Próspero é por sua vez, aquele que tem êxito, que é bem-sucedido, afortunado, que acumulou riquezas, rico, abastado, ditoso, feliz, venturoso3.

Seriam estas as qualidades do ser evangelizado? Seriam estes os fins da prática cristã?

Avaliemos. No sentido aqui colocado, Jesus o personagem central do Evangelho, foi próspero?

Seus discípulos da primeira hora, entre eles Pedro, João, Tiago, Paulo de Tarso, Estevão, entre outros, também foram acumuladores de riquezas?

E outros discípulos que também lhe foram fiéis em outros tempos, como Francisco de Assis, Madre Teresa de Calcutá, Irmã Dulce, Chico Xavier, foram estes também venturosos no que diz respeito às conquistas materiais?

Pensamos que não.

Mas e aí, seria o Evangelho contra a riqueza? Seria a mensagem de Jesus de caráter pessimista?

A questão não é essa, o Evangelho não é nem contra nem a favor da riqueza, pois a sua proposta é para o Espírito imortal, e não para o ser biológico que nasce, cresce e morre um dia. A mensagem do Evangelho é essencialmente otimista porque serve para que todos se redimam e tornem-se plenos diante da vida.

Para que compreendamos esta questão é preciso entender que Jesus dividiu o tempo em duas eras. Não estamos dizendo do calendário oficial que nos fala em antes e depois de Cristo, mas de algo muito mais profundo.

Antes do Cristo temos a era do homem biológico, o homem que tinha por objetivos maiores suprir todas as suas necessidades mais materiais. Assim, nesta fase ele luta por dinheiro, por poder, por conforto, prima pela estética, pela satisfação pessoal, pela educação intelectual, etc.. A mensagem do Cristo não é para este que vive de acordo com estes interesses. Jesus veio estabelecer entre nós a Era do Espírito. O homem espiritual candidata-se ao Reino, sua luta é para deixar de ser um ser humano para tornar-se um ser eminentemente espiritual.

A partir daí o que tem valor são as virtudes morais, as conquistas que não podem ser tomadas ou roubadas por ninguém. Neste plano têm-se não é do que se junta, mas do que se dá. É feliz não o que busca a sua própria felicidade ou o seu interesse pessoal, mas aquele que se sacrifica pelo interesse do outro.

A partir destas colocações, podemos pensar em vivenciar o Evangelho buscando satisfação pessoal?

É preciso que se compreenda que aqui não há meio termo, o cristão fiel aos ensinamentos de Jesus é aquele que primeiro se preocupa com o outro, e não com si próprio.

Expressões como “amar a si mesmo”, “autoestima”, “autovalorização”, entre outras da moderna psicologia, quando fomentadoras do egoísmo, são em verdade más interpretações das lições evangélicas, e pedra de tropeço para os cristãos desavisados.

Portanto é preciso avaliar que tipo de prosperidade buscamos, pois a verdadeira satisfação íntima da criatura está, na maioria das vezes, em proporção inversa às suas conquistas nos eventos do mundo.

Emmanuel com a sabedoria que lhe é peculiar, nos lembra:

Há muita gente acreditando, ainda, na Terra, que o Cristianismo seja uma panacéia como tantas para a salvação das almas.

Para essa casta de crentes, a vida humana é um processo de gozar o possível no corpo de carne, reservando-se a luz da fé para as ocasiões de sofrimento irremediável.

Há decadência na carne? Procura-se o aconchego dos templos.

Veio a morte de pessoas amadas? Ouve-se uma ou outra pregação que auxilie a descida de lágrimas momentâneas.

Há desastres? Dobram-se os joelhos, por alguns minutos, e aguarda-se a intervenção celeste.

Usa-se a oração, em momentos excepcionais, à maneira de pomada miraculosa, somente aconselhável à pele, em ocasiões de ferimento grave.

A maioria dos estudantes do Evangelho parecem esquecer que o Senhor se nos revelou como sendo o caminho...4

Sendo Jesus o Caminho, é preciso seguir pelo caminho traçado por Ele; e não foi Ele quem mais obedeceu entre nós? Não foi Ele quem mais serviu? Quem mais se sacrificou?

Lembremos ainda Emmanuel na mesma lição:

Cristãos que não aproveitam o caminho do Senhor para alcançarem a legítima prosperidade espiritual são criaturas voluntariamente condenadas à estagnação.

Aqui o grande mentor espiritual nos fala em prosperidade espiritual, esta sim a verdadeira prosperidade, pois baseada em conquistas morais superiores, patrimônio este que não pode ser tomado daquele que conquistou.

Portanto, entendamos que a abundância, a fartura, a fortuna que o Evangelho nos leva a possuir é a das efetivas conquistas do Espírito.

Até aí não há controvérsias, pois todo o seguidor dos ensinamentos de Jesus diz que quer mesmo é a promoção espiritual, porém é preciso que estejamos atentos para vermos como isto se dá.

Em texto trazido a nós pela mediunidade de nosso querido Chico Xavier, o Espírito Irmão X5 relata que Jesus sabe que há dois tipos de seguidores do seu Evangelho, um ele denomina de “seguidor de longe” e o outro de “discípulo de perto”.

Segundo o Mestre, o aprendiz de longe pode ora crer, ora descrer, abordando a verdade e esquecendo-a periodicamente; enquanto que o discípulo de perto empenha a própria vida permanecendo dia e noite na elevação dos testemunhos cristãos.

O de longe, continua o Sábio dos sábios, usa a liberdade para buscar honrarias e prazeres, misturando-os com as suas vagas esperanças do Reino de Deus, enquanto que o de perto sofre as angústias do serviço sacrificial e incessante. O de longe encoleriza-se, o de perto compreende e ajuda.

O de longe alega, muitas vezes, dificuldades até mesmo para se concentrar numa oração, experimentando sono e fadiga, quando o de perto caminha sem cansaço, em constante vigília.

Entre outras diferenças o Excelso Pastor ainda diz:

O de longe anseia possuir, enquanto o de perto tem prazer em dar sem recompensa, o de longe só encontra alegria na prosperidade material enquanto o de perto descobre a divina lição do sofrimento.

Assim é fácil compreender, há mesmo entre os profitentes da mais Bela Mensagem Espiritual de todas as eras, os que de longe anseiam somente pela satisfação imediatista caracterizada pela prosperidade do mundo, e os de perto que pacientemente mostram ter compreendido que o Reino da Felicidade não é deste mundo, sabendo da necessidade do sacrificar-se em favor do outro, e assim atingir a verdadeira prosperidade, que segundo Emmanuel, é a do Espírito imortal.

Para aqueles que ainda discordem de nossas considerações sugerimos a leitura da página A Lição da Cruz, do Espírito Osias Gonçalves, contida no capítulo 6 do Livro Instruções Psicofônicas, trazidas a nós pelo mesmo médium Chico Xavier.

No mais, muita prosperidade do Espírito para todos.

A Lição da Cruz

Osias Gonçalves

Meus irmãos:

Peçamos em nosso favor a bênção de Nosso Senhor Jesus-Cristo.

Nas recordações da noite de hoje, busquemos no Livro Sagrado a mensagem

de luz que nos comande as diretrizes.

Leiamos no Evangelho do Apóstolo João, no capítulo 12, versículo 32, a palavra

do Divino Mestre, quando anuncia aos seguidores:

«E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.»

Semelhante afirmativa foi pronunciada por ele, depois da entrada jubilosa em

Jerusalém.

Flores, alegria, triunfo.

Cabe-nos ponderar ainda que, nessa ocasião, o Embaixador Celestial havia

sido o Divino Médico dos corpos e das almas. Havia restaurado paralíticos, cegos e

leprosos, reconstituindo a esperança e a oportunidade de muitos... Estendera a

Boa-Nova e passara pela transfiguração do Tabor...

Entretanto, Jesus ainda se considera como Missionário não erguido da Terra.

Indubitavelmente, aludia ao gênero de testemunho com que o dilacerariam, mas

também ao sofrimento superado como acesso à vitória.

Reportava-se ao sacrifício como auréola da vida e destacava a cruz por símbolo

de espiritualidade e ressurreição.

Induzia-nos o Senhor a aceitar as aflições do mundo, como recursos de

soerguimento, e a receber nos pontos nevrálgicos do destino o ensejo de nossa

própria recuperação.

Ninguém passará incólume entre as vicissitudes da Terra.

Todos aí pagamos o tributo da experiência, do crescimento, do resgate, da

ascensão...

E arrojados ao pó do amolecimento moral, não atrairemos senão a piedade dos

transeuntes e o enxurro do caminho, sem encorajar o trabalho e o bom ânimo dos

outros, porque, de nós mesmos, teremos recusado a bênção da luta.

O Mestre, amoroso e decidido, ensinou-nos a usar o fracasso como chave de

elevação.

Traído pelos homens, utilizou-se de semelhante decepção para demonstrar

lealdade a Deus.

Atormentado, aproveitou a aflição para lecionar paciência e governo próprio.

Escarnecido, valeu-se da amargura íntima para exercer o perdão.

E, crucificado, fez da morte a revelação da vida eterna.

É imprescindível renunciar ao reconforto particular, para que a renovação nos

acolha.

Todos nos sentimos tranqüilos e sorridentes, diante do céu sem nuvens, mas se

a tempestade reponta, ameaçadora, eis que se nos desfazem as energias, qual se

nossa fé não passasse de movimento sem substância.

Acomodamo-nos com a satisfação e abominamos o obstáculo.

No entanto, não seremos levantados do mundo, ainda mesmo quando

estejamos no mundo fora do corpo físico, sem o triunfo sobre a nossa cruz, que, em

nosso caso, foi talhada por nossos próprios erros, perante a Lei.

É por isso que nesta noite, em que a serenidade de Jesus como que envolve a

Natureza toda, nesta hora em que o pensamento da coletividade cristã volve,

comovido, para a recuada Jerusalém, é natural estabeleçamos no próprio coração o

indispensável silêncio para ouvir a Mensagem do Evangelho que se agiganta nos

séculos...

«E eu, quando for levantado da terra, atrairei todos a mim.»

Enquanto o Senhor evidenciava apenas o poder sublime de que se fazia

emissário, curando e consolando, poderia parecer um simples agente do Pai

Celestial, em socorro das criaturas; mas atendendo aos desígnios do Altíssimo, na

cruz da flagelação suprema, e confiando-se à renúncia total dos próprios desejos,

não obstante vilipendiado e aparentemente vencido, afirmou o valor soberano de

sua individualidade divina pela fidelidade ao seu ministério de amor universal e,

desde então, alçado ao madeiro, continua atraindo a si as almas e as nações.

Içado à ignomínia por imposição de todos nós que lhe constituímos a família

planetária, não denotou rebeldia, tristeza ou desânimo, encontrando, aliás, em

nossa debilidade, mais forte motivo para estender-nos o tesouro da caridade e do

perdão, passando, desde a cruz, não mais apenas a revigorar o corpo e a alma das

criaturas, mas principalmente a atraí-las para o Reino Divino, cuja construção foi

encetada e cujo acabamento está muito longe de terminar.

Assim sendo, quando erguidos pelo menos alguns milímetros da terra, através

das pequeninas cruzes de nossos deveres, junto aos nossos irmãos de Humanidade,

saibamos abençoar, ajudar, compreender, servir, aprender e progredir sempre.

Intranqüilidade, provação, sofrimento, são bases para que nos levantemos ao

encontro do Senhor.

Roguemos, desse modo, a ele nos acrescente a coragem de apagar o incêndio

da rebelião que nos retém prostrados no chão de nossas velhas fraquezas, retirando-

nos, enfim, do cativeiro à inferioridade para trazer ao nosso novo modo de ser

todos aqueles que convivem conosco, há milênios, aguardando de nossa alma o

apelo vivo do entendimento e do amor.

E, reunindo nossas súplicas numa só vibração de fé, esperemos que e.

Bondade Divina nos agasalhe e abençoe.


1 Mateus, 6: 33

2 Dicionário Houaiss

3 Idem

4 Vinha de Luz cap. 176

5 Livro Pontos e Contos cap. 10

 

Batismo, Um Desafio Cristão

16/07/2012 16:16
Lavai-vos, purificai-vos, tirai a maldade de vossos atos de diante dos meus olhos; cessai de fazer o mal. (Isaías, 1: 16)
O tema do batismo tem nos desafiado a compreensão no que diz respeito ao entendimento evangélico sobre o assunto.
As religiões cristãs tradicionais batizam seus seguidores, cada uma a seu modo. O espiritismo que é também de origem cristã não prega a necessidade do batismo. Com quem está a razão?
João Batista que era um Espírito de alta evolução, que tinha a missão de ser o precursor de Jesus, batizava. E mais, disse que Jesus também batizaria. Apesar disso, João, o evangelista, afirma que Jesus mesmo não batizava, e sim os seus discípulos1.
Polêmicas à parte, se Jesus batizava ou não, o certo é que segundo as anotações de Mateus, uma das últimas orientações do Rabi antes de subir definitivamente aos Mundos Superiores, foi exatamente para que seus seguidores fizessem discípulos batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo2.
Isto está nas Escrituras, e conforme diz o próprio Senhor, a Escritura não pode ser anulada3.
Portanto, sendo Jesus o Guia e o Modelo para a humanidade conforme nos orientam os próprios Espíritos codificadores, e sendo Seu Evangelho roteiro imprescindível para nossas vidas, não estaria o espiritismo em erro, e nós espíritas não deveríamos também batizar e sermos batizados?
Fundamentados nestes pensamentos resolvemos estudar mais minuciosamente o assunto já que bem poucas são as referências espíritas sobre o tema e muito raro é nos Centros Espíritas abordarem tal questão.
A origem da palavra batismo é o grego baptizo que quer dizer mergulhar, imergir, que por sua vez deriva de bapto que tem basicamente o mesmo significado. Entretanto em um dicionário bíblico encontramos uma anotação que faz ligeira distinção entre os termos:
O exemplo mais claro que mostra o sentido de “baptizo” é um texto do poeta e médico grego Nicander, que viveu aproximadamente em 200 A.C. É uma receita para fazer picles. É de grande ajuda porque nela o autor usa as duas palavras. Nicander diz que para preparar picles, o vegetal deveria ser primeiro ‘mergulhado’ (“bapto”) em água fervente e então ‘batizado’ (“baptizo”) na solução de vinagre. Ambos os verbos descrevem a imersão dos vegetais em uma solução. Mas o primeiro descreve uma ação temporária. O segundo, o ato de batizar o vegetal, produz uma mudança permanente.4
Segundo alguns estudiosos, a origem de se batizar vem da Caldeia. Cairbar Schutel, espírita e estudioso do Evangelho, nos diz de forma diversa:
Esta prática, que assinala períodos milenários, parece ter nascido na Grécia Antiga, logo após a constituição de uma seita que cultuava a deusa da torpeza, a quem denominavam Cotito e a quem os atenienses rendiam os seus louvores. Esta seita, constituída de sacerdotes que tinham recebido o nome de baptas, porque se banhavam e purificavam com perfumes antes da celebração das cerimônias, deixou saliente nas páginas da História esse ato como símbolo de purificação.
Segundo o professor Paulo Dias, historiador e espírita de origem judaica, os judeus, no Ano Novo, na Páscoa, no Shabat, costumam fazer a MIKVA, o banho de lavagem total ou da casa, ou dos vasilhames, ou do corpo conforme o caso.
No judaísmo mesmo anterior a João Batista este banho de imersão era usado quando algum gentio se convertia, batismo dos prosélitos; ou como ritual de purificação. Por exemplo, as mulheres judias praticantes deveriam se purificar a cada período menstrual. Segundo a Torah antes de entrar no Templo a pessoa necessitava se purificar através de alguns rituais.
Segundo os textos do Novo Testamento o batismo de João, que foi um divisor de águas, era para o arrependimento. Os batizados entravam no rio Jordão e confessavam seus pecados. Podemos pensar que esta imersão na água simboliza a imersão do Espírito na nova doutrina a que ele deve se converter.
Temos assim, no batismo de João um grande diferencial em relação aos mergulhos anteriores; seu batismo não tinha sentido ritual, mas moral, ele não se repetia, o batizado não precisava de ficar se purificando sempre, já que ele se convertia e não se contaminava mais, esta era a ideia. Fazendo uma relação com a citação do poeta e médico grego Nicander, a imersão de João não deveria ter ação temporária, mas permanente.
Mesmo assim, o Batista dizia que seu ato iria ser superado pelo de Jesus, este não batizaria com água, mas com fogo e com o Espírito.
Temos aprendido em nossos estudos que o batismo com água, que é o batismo do arrependimento, que pode muito bem lembrar a própria reencarnação do Espírito, simboliza a justiça. Aliás, este é o símbolo do Precursor, é a justiça humana em seu grau máximo antes da chegada do amor que é o próprio Cristo em nossos corações.
Por isso o batismo de Jesus supera o de João, já que o amor é maior do que a justiça, esta está contida naquele.
Assim, chegamos a uma primeira conclusão. O batismo de João simboliza a reencarnação. O Espírito reencarnante também mergulha na água do líquido amniótico para iniciar sua vida física, e seu corpo nada mais é do que expressão deste líquido divino sendo ele quase todo de componente aquoso.
A reencarnação também é para o arrependimento, purificação e conversão do Espírito; sem ela não há progresso legítimo e nem mesmo podemos falar em justiça divina. Ela é a maior expressão da Justiça do Criador.
Dentro desta ótica podemos dar uma primeira resposta à nossa questão. O espírita deve se batizar? Sim, não só os espíritas, mas todos os cristãos. Não só os cristãos, mas todos os filhos de Deus.
Resta-nos apenas resolver uma pendência para seguirmos adiante. Dissemos que o batismo de João não se repetia. Daí podem nos perguntar: mas como ele representa a reencarnação já que esta se repete várias vezes?
Deixamos a palavra com Kardec e com os Espíritos codificadores:
Todos os Espíritos tendem para a perfeição e Deus lhes faculta os meios de alcançá-la, proporcionando-lhes as provações da vida corporal. Sua justiça, porém, lhes concede realizar, em novas existências, o que não puderam fazer ou concluir numa primeira prova.5
A cada nova existência, o Espírito dá um passo para diante na senda do progresso. Desde que se ache limpo de todas as impurezas, não tem mais necessidade das provas da vida corporal.6
Deste modo, o objetivo da encarnação do Espírito, como do batismo, é o de fazer o Espírito atingir a perfeição7. Todavia como este não a alcança numa só experiência física, ele tem oportunidade de outras. O mesmo se dá muitas vezes nas próprias igrejas cristãs, é comum um adepto se batizar e não se converter totalmente tendo a necessidade de confirmar posteriormente o batismo. Por isso o próprio Batista disse que o batismo de Jesus seria mais poderoso do que o dele, pois ao ser batizado com o fogo e o Espírito a criatura não mais necessitaria reencarnar, se daria a queima de todas as impurezas e o aperfeiçoamento pleno pela vivência do amor.
Destarte, como compreendermos o batismo de Jesus? O que é ser batizado com o fogo e com o Espírito Santo? Qual o real sentido destas palavras?
Continuemos analisando alguns textos:
Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura?
Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.
Já está posto o machado à raiz das árvores; toda árvore, pois, que não produz bom fruto é cortada e lançada ao fogo.8
Os fariseus e saduceus somos nós mesmos que, pecadores necessitamos reencarnar e assim conhecermos Jesus9e sermos por Ele batizados.
Entretanto, por nos identificarmos mais com as questões exteriores, queremos logo receber o batismo por meio de rituais como fazem as igrejas tradicionalmente. João os alertou:
quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.
A ira futurarepresenta o retorno de nossas ações no campo da irreflexão. Queremos o perdão de fora para dentro sem construí-lo no dia a dia. É nesse sentido que aguardamos o Messias poderoso e salvador, o que vai nos livrar da escravidão. É preciso produzirmos frutos dignos de arrependimento, e isto se dá quando, como nos ensina o Codificador do Espiritismo10, nos arrependermos, expiarmos e repararmos o mal feito.
Quando isto não se dá, não produzimos bons frutos e somos assim, lançados ao fogo, fogo este que simboliza os desafios a que somos submetidos com o objetivo de purificação de nossas imperfeições no cadinho da vida.
Deste modo, o batismo do fogo é a queima destes resíduos inúteis e perniciosos que produzimos com nossas imperfeições. Do mesmo modo que o ouro ou os metais se purificam em altas temperaturas, nos estamos sujeitos a todo tipo de dores, contrariedades, e dificuldades com objetivos redentores na temperatura elevada das lutas reencarnatórias. Entretanto, para que este seja o autêntico batismo do Cristo é preciso que tudo isto se dê de forma consciente, e possamos no plano aplicativo das lições do Mestre assim fazer com alegria.
Ainda exemplificando sobre como seria este batismo o próprio Jesus nos disse ter vindo trazer não a paz, mas a espada11, em se referindo à luta íntima que teríamos de empreender durante nosso processo reeducativo.
Só depois deste batismo, o do fogo, é que podemos nos candidatar a sermos batizados com o do Espírito Santo, que é justamente aquele em que redimidos nos tornamos santificados pela implementação em nós das virtudes evangélicas como conquista definitiva do Espírito. Ser batizado com o Espírito Santo é, portanto, ser promovido e passar a fazer parte do grupo dos Espíritos do Senhor que não só são ajudados, mas que efetivamente ajudam o próprio Criador e Seu Cristo no encaminhamento das almas ainda desajustadas.
Dito isto, podemos pensar em concluir este nosso estudo, cuidando apenas de comentarmos sobre a orientação de Jesus para que fizéssemos discípulos em todas as nações batizando-os em nome do Pai, do Filho, e do Espírito Santo12.
Este versículo contido nas anotações de Mateus simboliza todo o plano de nossa colaboração com o Pai no que diz respeito à implantação de Seu Evangelho - porque em última instância o Evangelho é de Deus -, no coração de Seus filhos. Só assim tomamos posse de nossa salvação. Compreendendo isto, o salmista assim se expressou:
Devolve-me o júbilo da tua salvação
E que um espírito generoso me sustente.
Vou ensinar teus caminhos aos transgressores,
Para que os pecadores voltem a ti.13
Deus Pai é a Fonte Irradiadora de Todo Bem, de Todo Amor. O Filho, que simboliza Jesus, o Cristo, é o plano operacional deste Bem, do Amor. O Espírito Santo são todos os Espíritos agregados a Deus em Plena Comunhão Harmônica, pela dinamização do próprio amor. São aqueles que em uníssono com o Pai trabalham em favor de Seus filhos.
Deste modo, batizar em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo sintetiza todo trabalho do apóstolo induzindo as criaturas a realizarem o processo de evolução consciente ajustada aos três níveis da Trindade Universal: recebendo a irradiação superior do Alto, operando na faixa de responsabilidade individual como filho obediente, tornando-se assim um Espírito redimido pela recomposição de sua consciência.
É a marcha da evolução. Saímos do Pai que é Deus nos tornando filhos, e sendo filhos ajustados ao Pai voltamos a Ele como Espíritos Santos plenamente realizados dentro do plano de aperfeiçoamento possível de ser realizado.
Conclusão
Ou não sabeis que todos os que fomos batizados em Cristo Jesus, é na sua morte que fomos batizados? Portanto pelo batismo nós fomos sepultados com ele na morte para que, como Cristo foi ressuscitado dentre os mortos pela glória do Pai, assim também nós vivamos vida nova.14
O verdadeiro batismo não se trata de um ritual, mas de disposição moral de conversão, por isso é mudança permanente, vida nova.
Devemos ser batizados? Sim, mas é preciso conscientizarmos que ninguém poderá fazer isto por nós. Nós é que temos que realizar este processo individualmente, de dentro para fora.
O apóstolo Paulo nestes belíssimos versos da Carta aos Romanos nos mostra como realizar este batismo em Cristo Jesus. A proposta dele é que assim façamos em três níveis.
Morte, sepultamento e ressurreição.
Se os dois primeiros lances dizem respeito ao homem velho, aos anseios humanos que nos dirigem, o terceiro marca o nascimento da Nova Criatura, nosso destino final em Deus.
O batismo assim, significa morte, e por mais que isto possa nos assustar, pois não é prazeroso pensar em morrer, trata-se de algo imperativo, morrer para as necessidades antigas, para os velhos hábitos, para as companhias que não nos ajudam na promoção espiritual. Este é o primeiro passo, matarmos todas as ilusões da transitoriedade. Todavia, quando esta morte acontece, ainda fica um resquício, muitas vezes ficamos ligados a estes sentimentos passados por um fio fluídico que por mais fino que seja ainda nos atrai para a retaguarda. É preciso dar o segundo passo e sepultar todas estas formas negativas de vida.
O sepultamento representa assim, o rompimento dos laços fluídicos que nos ligam ao passado, é o corte na onda mental do atraso, a desvinculação definitiva com os laços escravizantes da matéria.
Só após este segundo passo definitivamente dado nasce a Nova Criatura, ressurge o Espírito que faliu, recompõe-se a consciência denegrida. Só após a sexta feira da crucificação dos interesses pessoais atingimos a Ressurreição no primeiro dia santo de uma nova vida santa.
Portanto, não nos entristeçamos, o batismo é morte, mas morte para que obtenhamos a Vida, e Vida Abundante, Vida Eterna.
Este é o verdadeiro sentido do batismo a que temos de nos submeter, o rompimento total com a velha criatura, com o príncipe deste mundo, para que possamos Nascer de Novo, tornando-nos senhores de nós mesmos, e príncipes do Reino, Filhos de Deus, Herdeiros do Eterno.
 

Bibliografia

A Bíblia de Jerusalém. São Paulo: Ed. Paulinas, 1992.
BibleWorks For Windows, Versão 7.0.012g. BibleWorks, 2006.
Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002.
KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno.Rio de Janeiro: FEB, 1944.
. O Livro dos Espíritos. 50ª ed.Rio de Janeiro: FEB, 1980.
 
 
 
1 Cf. João, 4: 2
2 Mateus, 28: 19
3 João, 10: 35
4 Dicionário Bíblico Strong . Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2002
5 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. 50ª ed. Rio de Janeiro: FEB, 1980. Comentário da questão 171
6 Idem, Q 168
7 Id., ib. Q. 132
8 Mateus, 3: 7,8 e 10
9 João, 1: 31
10 KARDEC, Allan. O Céu e o Inferno. Rio de Janeiro: FEB, 1944. I Parte, cap. VII
11 Cf. Mateus, 10: 34
12 Cf. Mateus, 28: 19
13 Salmo, 51: 14 e 15
14 Romanos, 6: 3 e 4

 

I Tessalonicenses, 1: 1 Seria Este o Primeito Versículo Escrito do Novo Testamento?

11/07/2012 09:38

 

 

 

 

 

O prefácio do livro Paulo e Estevão está fazendo aniversário. Ele é datado de 08 de Julho de 1941.

Sabemos que este é um dos livros mais importantes da literatura mediúnica de Francisco Candido Xavier sob a orientação de Emmanuel sendo este o autor espiritual desta monumental obra.

Pretendemos no mês de setembro próximo iniciar a publicação em nosso Blog de um estudo da Carta de Paulo aos Tessalonicenses, que segundo alguns estudiosos é o primeiro texto escrito do Novo Testamento como temos hoje.

Para não passar em branco esta data de grande importância para o movimento espírita-evangélico, publicamos neste dia os comentários do primeiro versículo desta carta histórica. Este é, portanto, talvez, o primeiro versículo escrito do Novo Testamento.

Aguardamos, assim, para o mês de setembro próximo, se for da Vontade de Deus, a sequência do estudo destes valiosos primeiros textos do Apóstolo Paulo, que foi, segundo palavras de Huberto Rohden, o maior Bandeirante do Evangelho.

Paulo, e Silvano, e Timóteo, à igreja dos tessalonicenses, em Deus, o Pai, e no Senhor Jesus Cristo: graça e paz tenhais de Deus, nosso Pai, e do Senhor Jesus Cristo. (1ª Tessalonicenses, 1: 1)

Por volta do ano 50 de nossa era, já em franca atividade apostólica, Paulo, o fiel amigo dos gentios, se vê diante da seguinte dificuldade: a expansão das comunidades por ele fundadas crescia e com o crescimento surgiam dificuldades para o bom andamento da divulgação do Evangelho. Sua presença era sempre solicitada entre os novos seguidores do Cristo, e ele já não dava conta de atender à solicitação de todos como gostaria.

Após uma sentida oração percebeu-se envolvido pela presença espiritual do próprio Jesus que buscando tranquilizá-lo inspira-o a mudar a forma de assistência aos queridos seguidores.

Conforme anotações de Emmanuel, o Senhor o orienta com brandura:

Poderás resolver o problema escrevendo a todos os irmãos em meu nome… (…) doravante Estevão permanecerá mais aconchegado a ti transmitindo-te meus pensamentos, e o trabalho de evangelização poderá ampliar-se em benefício dos sofrimentos e das necessidades do mundo.1

Deste modo, o Apóstolo convidou Timóteo e Silas, aqui chamado de Silvano, para juntos redigirem a primeira de suas importantes epístolas.

Paulo escreve esta sua primeira epístola em Corinto, por volta do ano 50 ou 51 de nossa era. Esta carta tem importância histórica, pois provavelmente é o primeiro documento escrito do Novo Testamento.

Emmanuel2 relata que por volta do ano 34 ou 35 d.C. os seguidores do Cristo tinham um manuscrito de Mateus onde consultavam os ensinamentos de Jesus. Porém os historiadores informam-nos que o Evangelho de Mateus conforme temos hoje, em sua forma narrativa, é de composição mais tardia. O texto a que Emmanuel se refere deve ser um primeiro Evangelho escrito por Mateus em aramaico (ou hebraico); o atual foi escrito em grego. Mais tarde Mateus teria composto um novo texto, inclusive com influência do Evangelho de Marcos que segundo os estudiosos é anterior.

Estas cartas, escritas por Paulo, foram produzidas por um método que alguns autores denominam de círculos de profecia, que consistia em uma meditação por parte do apóstolo e de seus companheiros, em que Paulo, concentrado, recebia por inspiração as palavras e estas vinham naturalmente e eram faladas em voz alta e anotadas. Há desde aqui, e mesmo bem antes, pois alguns estudiosos informam-nos que desde Samuel os textos sagrados eram produzidos desta forma, uma identidade com o que hoje nós espíritas chamamos de produção mediúnica; um medianeiro recebe o texto dos espíritos – que aqui era o de Estevão representando o próprio Jesus -, e o transmite aos assistentes pela palavra oral (psicofonia) ou escrita (psicografia).

Estes eram os dons espirituais que o apóstolo iria aprofundar e tornar claro mais adiante em outras epístolas.

Importa-nos ainda nesta saudação vermos como o fiel divulgador do Evangelho diferencia Deus, o Pai, do Senhor Jesus Cristo. Para Paulo é clara a distinção, Deus e Jesus são figuras distintas, um é o Criador, conforme Atos, 17: 24, o outro, Jesus, era o Cristo, ou Messias, o Filho enviado por Deus para remir a humanidade que se encontrava em erro e sob o jugo do mundo, conforme Gálatas, 4: 3 a 5.

1 Paulo e Estevão, pág. 529

2 Paulo e Estevão, Op. cit.

 

Kardec e a Bíblia

03/07/2012 19:20

 

A Bíblia é um dos livros mais conhecidos de todos os povos. É sem dúvida um dos maiores sucessos editoriais de todos os tempos, pois trata-se de um dos livros mais vendidos em toda historia da humanidade e um dos mais traduzidos para vários idiomas.[1]

Em todos os tempos estudiosos se debruçaram sobre seus os textos para analisá-los. Textos estes que foram sempre motivos de muitas contradições e já geraram, e ainda hoje são, responsáveis por guerras de grandes conseqüências.

Sempre existiram aqueles que a interpretaram em seu sentido literal, outros ao contrário, viram em suas narrativas alegorias, e buscaram extrair destas alegorias um ensinamento moral mais profundo e de grande alcance. Há ainda os que sempre a tiveram por uma revelação divina escrita pelo próprio Criador de todas as coisas que assumira em vários momentos nomes distintos.

Hoje, historiadores e cientistas conseguem fazer um apanhado mais próximo da realidade e com o avanço da crítica textual definem autores, datas, e a origem de textos, com maior precisão e com menores chances de erro, porém, as polêmicas continuam porque o sentido velado destes mesmos textos, afirmam alguns, só podem ser percebidos com os olhos da alma, com a profunda integração dos estudiosos com as forças transcendentais da vida e com um estudo minucioso de cada palavra ali contida com um objetivo, mesmo que este, por origem divina, tenha passado despercebido até mesmo de seus autores físicos.

Este livro influenciou muitos povos, fez história, ergueu e destruiu impérios, marcou constituições e determinou atitudes políticas em todos os tempos.

Em nosso movimento espírita não têm sido menos polêmicos os estudos de seu conteúdo, e até com certa descrença alguns espíritas têm perguntado: “deve o espírita estudar a Bíblia?” Outros têm ido mais além respondendo que não, e há ainda aqueles, apesar de minoria, que não concordam nem mesmo com o estudo do Novo Testamento, dizendo que bastam as anotações do Codificador do espiritismo em “O Evangelho Segundo o Espiritismo”.

A estes dirigimos estas linhas dizendo que estão eles em grande contradição com os próprios textos básicos de nossa literatura espírita, pois estes informam-nos claramente ser o espiritismo uma filosofia cristã, e que Jesus é o Guia e Modelo para todos nós que trilhamos o caminho evolutivo traçado por Deus desde a criação de todas as coisas.

O Evangelho Segundo o Espiritismo é uma obra ímpar, de grande importância, e de qualidade incontestável, porém não foi escrito com o objetivo de elucidar todo o conteúdo do Novo Testamento, seu propósito maior foi ampliar, explicando, o conteúdo moral do Evangelho de Jesus e fazer uma conexão deste com a revelação dos Espíritos Superiores.

Além de O Evangelho Segundo o Espiritismo, que é o livro mais conhecido da literatura espírita, Kardec responde a esta nossa questão de que se deve a Bíblia ser estudada pelos espíritas em vários outros textos contidos na codificação.

É preciso antes de tudo lembrar que Kardec foi um cientista, um educador e um sábio de seu tempo, e deste modo, e por fazer tudo isso com uma competência tal que o projetou para muito além de seus dias, não se viu impedido de aceitar desafios; desta feita estudou minuciosamente não só a Bíblia como textos sagrados de várias outras filosofias religiosas ponderando com saber e lógica sobre as contradições de cada um e de seu sentido espiritual mais profundo.

Já na questão 59 de “O Livro dos Espíritos” disserta sobre colocações bíblicas a respeito da Criação com considerações que devem ser ponderadas por todos nós.

Como introdução a estas questões, na pergunta de nº 50, questiona sobre o início da humanidade no orbe induzindo os Espíritos a falarem sobre o figura mítica de Adão, figura esta bem colocada para todos nós nos primeiros movimentos do livro Gênesis atribuído até então, a Moisés.

Os Espíritos informam a Kardec que Adão não foi o primeiro nem o único homem a povoar a Terra àquele tempo, e dizem mais:

 

“O homem, cuja tradição se conservou sob o nome de Adão, foi dos que sobreviveram, em certa região, a alguns dos grandes cataclismos que revolveram em diversas épocas a superfície do globo, e se constituiu tronco de uma das raças que atualmente o povoam. As leis da Natureza se opõem a que os progressos da Humanidade, comprovados muito tempo antes do Cristo, se tenham realizado em alguns séculos, como houvera sucedido se o homem não existisse na Terra senão a partir da época indicada para a existência de Adão."[2]

Como dissemos, na questão 59 Kardec amplia, fruto de seus estudos, os comentários sobre colocações bíblicas concernentes à Criação, dizendo que a Bíblia, se interpretada literalmente, erra não só quanto a Adão não ser o primeiro e único homem que originou a humanidade, como também comenta sobre a impossibilidade de ter sido criado o mundo em seis dias de vinte quatro horas apenas; e também sobre a questão do movimento da Terra, que, em determinada época, pareceu se opor aos textos bíblicos que a viam imóvel, além de outras questões importantes sobre quando se deu o início da criação, que o Gênesis situa há quatro mil anos antes de Cristo, e que a ciência mostra ser inverossímil esta data, pela anterioridade de fósseis encontrados que datavam de tempo muito anterior a este.

Depois de pormenorizados comentários a respeito deste tema e de outros, Kardec conclui perguntando:

Dever-se-á daí concluir que a Bíblia é um erro?

Ao que ele mesmo com a sabedoria e o bom senso que lhe eram peculiares responde:

 

"Não; a conclusão a tirar-se é que os homens se equivocaram ao interpretá-la."[3]

 

Mostrando para todos nós que deveríamos estudar a Bíblia, como ele fez, e que caberia aos espíritas reinterpretá-la às luzes da ciência espírita.

Mais adiante, no livro A Gênese, Kardec volta ao tema dizendo:

 

"De todas as Gêneses antigas, a que mais se aproxima dos modernos dados científicos, sem embargo dos erros que contém, postos hoje em evidência, é incontestavelmente a de Moisés. Alguns desses erros são mesmo mais aparentes do que reais e provêm, ou de falsa interpretação atribuída a certos termos, cuja primitiva significação se perdeu, ao passarem de língua em língua pela tradução, ou cuja acepção mudou com os costumes dos povos, ou, também, decorrem da forma alegórica peculiar ao estilo oriental e que foi tomada ao pé da letra, em vez de se lhe procurar o espírito."[4]

 

"Sobre alguns pontos, há, sem dúvida, notável concordância entre a Gênese moisaica e a doutrina científica; mas, fora erro acreditar que basta se substituam os seis dias de 24 horas da criação por seis períodos indeterminados, para se tornar completa a analogia. Não menor erro seria o acreditarse que, afora o sentido alegórico de algumas palavras, a Gênese e a Ciência caminham lado a lado, sendo uma, como se vê, simples paráfrase da outra."[5]

 

Na continuidade deste capítulo XII do mesmo livro A Gênese, Kardec faz uma detalhada comparação entre o que diz a ciência sobre os períodos geológicos de formação planetária e os seis dias da criação conforme as anotações mosaicas, vindo a dizer:

 

"Desse quadro comparativo, o primeiro fato que ressalta é que a obra de cada um dos seis dias não corresponde de maneira rigorosa, como o supõem muitos, a cada um dos seis períodos geológicos. A concordância mais notável se verifica na sucessão dos seres orgânicos, que é quase a mesma, com pequena diferença, e no aparecimento do homem, por último. É esse um fato importante.
Há também coincidência, não quanto à ordem numérica dos períodos, mas quanto ao fato em si, na passagem em que se lê que, ao terceiro dia, «as águas que estão debaixo do céu se reuniram num só lugar e apareceu o elemento árido». É a expressão do que ocorreu no período terciário, quando as elevações da crosta sólida puseram a descoberto os continentes e repeliram as águas, que foram formar os mares. Foi somente então que apareceram os animais terrestres, segundo a Geologia e segundo Moisés."
[6]

 

Não é nosso objetivo neste texto singelo fazer comentários mais profundos sobre as considerações de Kardec, nem muito menos acrescentar algo como interpretação dos textos mosaicos, apenas mostrar que o Codificador estudava a Bíblia e nos ensinava como fazer. Deste modo, ele recorre aos termos originais do hebraico várias vezes para melhor compreender a essência do que queriam dizer os autores bíblicos, comenta outros textos como os do dilúvio, da perda do paraíso, nos mostrando ser possível fazer uma exegese fundamentada nos ensinamentos espíritas e assim muito aprender com esta literatura, que diga-se de passagem é de ótima qualidade.

E ainda neste mesmo capítulo de A Gênese reitera o que havia dito em O Livro dos Espíritos:

 

"Não rejeitemos, pois, a Gênese bíblica; ao contrário, estudemo-la, como se estuda a história da infância dos povos.
Trata-se de uma época rica de alegorias, cujo sentido oculto se deve pesquisar; que se devem comentar e explicar com o auxílio das luzes da razão e da Ciência. Fazendo, porém, ressaltar as suas belezas poéticas e os seus ensinamentos velados pela forma imaginosa, cumpre se lhe apontem expressamente os erros, no próprio interesse da religião. Esta será muito mais respeitada, quando esses erros deixarem de ser impostos à fé, como verdade, e Deus parecerá maior e mais poderoso, quando não lhe envolverem o nome em fatos de pura invenção."
[7]

 

É sobre o Novo Testamento que Kardec mais se ocupa com interpretações de grande inteligência.

Na introdução de o Evangelho Segundo o Espiritismo mostra que esta obra priorizaria o conteúdo moral dos ensinamentos de Jesus, deixando para outros momentos temas mais polêmicos que podiam dividir as opiniões. Mesmo assim mostra-nos a importância de fazermos uma análise histórica, cultural e sociológica daquele período em que Jesus viveu, e vai mais além, tanto analisando algumas expressões idiomáticas do hebraico, como fazendo uma conexão entre as filosofias de Sócrates e Platão, com os ensinamentos de Jesus e com a Doutrina Espírita que surgia.

Nos livros A Gênese e em Obras Póstumas, obra publicada após o seu desenlace, volta ao tema desta vez analisando à luz do Espiritismo temas, como dissemos anteriormente, mais polêmicos.

No primeiro Kardec analisa os ditos “milagres” feitos por Jesus, como curas, ressurreições, profecias, entre outros. Mostrando-nos que o que foi chamado de milagre nada mais era do que um desconhecimento do homem sobre algumas leis da natureza. Jesus, por ser um Espírito de grande evolução, de alta hierarquia espiritual, tinha conhecimento destas leis e agia consoante a vontade do Pai atuando nas causas dos problemas, atingindo assim resultados incompreendidos pelo ser humano comum

Kardec teve a coragem de dizer sem perder entendimento em matéria de religiosidade, que a Lei Divina não pode ser derrogada nem por Jesus e nem mesmo por Deus, portanto não havia milagres, mas tudo se dava como fruto de ação consciente num nível mais profundo de espiritualidade.

Já no livro Obras Póstumas o Codificador faz um estudo minucioso sobre a natureza de Jesus, mostrando-nos, com maestria, baseado nas próprias palavras do Mestre e na opinião de suas testemunhas vivas, os apóstolos, que Jesus não era Deus, e esta crença que surgiu nos séculos posteriores do cristianismo não tinha fundamentação bíblica e era pura deturpação dos textos originais das escrituras.

Estes textos devem ser meditados e estudados por todos os espíritas como resposta àquela questão que comentamos no início, de que se deve ou não o espírita estudar a Bíblia. Servindo para outros irmãos ligados a outras crenças religiosas para mostrá-los que o Espiritismo além de ser uma filosofia cristã também se preocupa em estudar a Bíblia tendo por exemplo, o seu Codificador.

E mesmo outros estudiosos dos textos sagrados que realizam importantes comentários sobre as escrituras citando historiadores e profitentes de várias crenças, deviam conhecer um pouco mais de Kardec e a sua opinião sobre esta, que como dissemos no início, é uma das obras mais importantes da literatura mundial.

[1] Alguns autores dão como mais seis bilhões de exemplares vendidos e mais de dois mil idiomas em que foram traduzidos os originais.

[2] O Livro dos Espíritos, questão 51

[3] Ibidem, questão 59

[4] A Gênese, cap. IV item 5

[5] Gênese, cap. XII item 3

[6] Ibidem, item 6

[7] Ibidem, item 12

 

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