Estudos da Evoluçao no Gênesis


001Gênesis 17-06-2006 Sr. Honório.WAV (22940672)

002Gênesis 24-06-2006 Sr. Honório.WAV (22764032)

003Gênesis 01-07-2006 Sr. Honório.wav (22309888)

004Gênesis 08-07-2006 Sr. Honório.wav (23622144)

Gênesis, 1: 1-10

No princípio criou Deus os céus e a terra. 2 E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas. 3 E disse Deus: Haja luz; e houve luz. 4 E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas. 5 E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. 6 E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. 7 E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. 8 E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo. 9 E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi. 10 E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.

O Evangelho tanto quanto o Antigo Testamento devem ser estudados em seu aspecto reeducacional. É bom lembrarmos que a evangelização é pessoal, não se evangeliza a massa; a massa é o nosso instrumento de crescimento e a oportunidade de lançarmos a semente do Evangelho.

Quando estudamos evolução devemos levar em consideração que a evolução que deve ser estudada é a que promove o progresso moral do Ser, esta é a proposta de Jesus.

Para que o Espírito evolua, ele deve estar associado à matéria. A matéria é o instrumento que o espírito usa para a evolução.1

Esta evolução é feita em dois sentidos: descendente e ascendente.

O espírito mergulha na matéria evolução descendente.

O espírito emerge da matéria evolução ascendente.

Segundo os espíritos, na questão 621 de O Livro dos Espíritos, a Lei de Deus está gravada na consciência, Lei que foi esquecida. Segundo entendemos este esquecimento se deu na evolução descendente. Na ascendente buscamos lembrar o que foi esquecido. “quis Deus que ela lhes fosse lembrada.”2.

Na descida as qualidades são potencializadas e na subida evolutiva, dinamizadas.

O berço da evolução é o campo físico. Ela acontece nos dois planos, físico e espiritual, entretanto, em nosso estágio atual não há como prescindir da matéria para realizarmos a evolução.

Já no primeiro versículo deste capítulo do Gênesis temos esta realidade:

Céus e terra representando:

  • Matéria e espírito

  • Informação e transformação

  • Intelecto e moral

  • Periferia e aprofundamento.

Notamos que segundo a ordem do relato bíblico temos céus e terra, sugerindo que os céus, o plano do espírito puro, veio antes, a terra como expressão do que é material só acontece depois. Em seu primeiro momento – se é que podemos assim dizer – Deus que é Espírito, cria espiritualmente, fora das dimensões tempo e espaço. Tempo e espaço só surgem com a formação do Universo material.

Através da evolução descendente surge a matéria, o espírito que neste momento perde a sua consciência irá readquiri-la pelo processo da evolução ascendente.

Temos aqui o símbolo da “queda do espírito”. Antes, no paraíso de Deus, ele vive em espírito, depois ele cai na matéria e precisa, pelo esforço de recomposição – no suor do teu rosto comerás o teu pão3 - a ele voltar. É o que as religiões denominaram “salvação”, ou “redenção”.

Só se salva ou se redime o que se perdeu.

É neste sentido que devemos entender a palavra “religião”, no de religar; religar a criatura ao Criador. Aqui temos o que é verdadeiramente religião, não confundirmos com as organizações religiosas criadas pelos homens.

A história da Bíblia é esta, a de salvação do Espírito. Ela inicia com a criação, depois temos a queda, na sequência as incessantes lutas do homem buscando Deus, e no final – no Apocalipse – a Jerusalém Libertada, que é justamente o símbolo da salvação do Espírito, da volta para Casa, para a Unidade Divina.

Em Adão temos o símbolo do rompimento da a Aliança feita com Deus, através de Jesus temos a retomada da Aliança, por isso Paulo com a autoridade que lhe era peculiar pôde dizer ser Jesus o último Adão.4

No princípio criou Deus os céus e a terra.

No Princípio; a expressão no princípio, em hebraico, beréshit, nos fala de uma origem; alguns analistas têm visto este princípio desvinculado de qualquer idéia de tempo, seria assim atemporal. Deus é eterno e incriado, deste modo a criação seria eterna, algo que jamais começou. Todavia podemos também entender este princípio como um momento escolhido no tempo para iniciar um relato. Dizemos assim, pois desta forma fica mais fácil a compreensão de algo que transcende o nosso entendimento: a origem de tudo.

Assim, temos o princípio de acordo com o estado evolutivo individual de cada um. Para uns a vida começa com o nascimento físico, outros aceitam com facilidade a preexistência da alma. Entre estes últimos há os que creem que a vida inteligente só acontece a partir do reino animal ou hominal, entretanto há aqueles que já veem o princípio inteligente no mineral, ou até mesmo antes deste.

De que princípio fala o texto, da origem do universo material? Das dimensões tempo e espaço? Ou simplesmente da fundação de nosso Orbe? Como dissemos, cabe a cada um analisar de acordo com a sua possibilidade evolutiva.

Os rabinos observam que a primeira letra do alfabeto hebraico é o “aleph”. Esta simbolizaria Deus em sua Unidade; “beth”, a segunda, a inicial de beréshit representaria assim, a dualidade. Portanto, beréshit (princípio), seria a entrada do universo na dualidade, a criação do mundo corpóreo.

Criou; ou criava segundo algumas traduções. Em hebraico “bara”, verbo que só é utilizado tendo Deus por sujeito. Representa assim ação criadora divina que é diferente da ação produtora do Espírito. Deus cria a partir do que não existe, o Espírito só produz a partir do que já tem existência.

Deus; no texto original temos o nome Elohîms para designar o Deus que hoje conhecemos. Deus é único, singular, absoluto; porém Elohîms é plural. Segundo Chouraqui5, nas línguas semíticas, Elohîms é o termo genérico para designar o conjunto de divindades. Seriam assim, dentro da terminologia espírita, os Espíritos Puros, aqueles que segundo André Luiz realizam uma Co-Criação em plano maior. Relata-nos este autor espiritual:

Nessa substância original, ao influxo do próprio Senhor Supremo, operam as Inteligências Divinas a Ele agregadas, em processo de comunhão indescritível…

(…)Essas Inteligências Gloriosas tomam o plasma divino e convertem-no em habitações cósmicas, de múltiplas expressões, radiantes ou obscuras, gaseificadas ou sólidas, obedecendo a leis predeterminadas…6

Emmanuel também nos esclarece a respeito:

Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos, do nosso sistema, existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias.7

Estas anotações estão em pleno acordo com o que nos ensinam os Espíritos na Codificação; em O Livro dos Espíritos encontramos:

Deus não exerce ação direta sobre a matéria. Ele encontra agentes dedicados em todos os graus da escala dos mundos.8

Portanto, quem constrói e formam os mundos físicos e materiais são os Espíritos destacados pelo Senhor Supremo para esta função, e Elohîms, Cristo, Logos, na verdade são nomes que expressam esses “agentes dedicados” que servem a Deus desde o princípio dos tempos.

Assim podemos compreender melhor estas primeiras informações do Gênesis como sendo a expressão de formação de mundos materiais, o nosso orbe por exemplo. Já existe “tempo”, deste modo, é correto dizer no princípio. Deus é aqui a representação dos Espíritos Puros, Co-Criadores em plano maior, Elohîms.

Os céus e a terra; céus, no plural representa o infinito. Terra no singular, o finito.

Quando os cientistas estudam uma provável data para o surgimento do Universo (aproximadamente uns 15 bilhões de anos), falam do Universo físico. O Big Bang foi uma grande explosão a partir da qual surge o Universo, porém, é preciso perceber que alguma coisa explodiu, o quê? Não sabemos, porém era algo que já existia. A cada percepção de princípio da ciência, descobriremos que algo já existia antes, pois a ciência trata do relativo enquanto Deus é o Absoluto. Pode-se descobrir Deus através da ciência, porém, sua intimidade transcendental não é objeto de pesquisa desta.

Nossa visão de infinito é sempre relativa. Existem teorias sobre o infinito, mas não sabemos o que é.

Entramos no terreno da fé. Fé pode significar algo que não conhecemos mas que deduzimos.

Ora, a fé é o firme fundamento das coisas que se esperam e a prova das coisas que se não vêem.9

(…) porque, em parte, conhecemos e, em parte, profetizamos10

Portanto, Deus Cria, nós co-criamos.

Céus representa também a primeira criação. Mesmo nós que co-criamos iniciamos qualquer ação produtiva nos céus, isto é, no campo mental.

A terra representa assim o campo operacional; é onde executamos os projetos elaborados nos momentos de idealizações.

E a terra era sem forma e vazia; e havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.

E a terra era sem forma e vazia; este é o modo em que o redator bíblico se manifestou, para ele a terra era informe, isto é, sem forma.

Quando alguém compra um terreno e planeja ali a construção de sua casa, em seu campo mental a casa já está pronta, ele consegue visualizar tudo, e até transitar mentalmente entre os cômodos. Ao chegar um desconhecido ele tenta mostrar a casa para este que não consegue visualizar nada, para este o terreno está vazio e sem forma.

Para o Deus o tempo não passa, o tempo é; Ele é anterior ao tempo. No Campo Mental do Criador tudo sempre existiu e de forma organizada.

Nada é vazio. “O que te parece vazio está ocupado por matéria que te escapa aos sentidos e aos instrumentos.”11

O “gérmen primitivo”12 de tudo sempre existiu em estado latente,eles ficam aguardando o momento propício para se desenvolverem13.

Para o homem existe o antes e o depois ele tem de construir e construir-se, o princípio é vazio e sem forma cabe a cada um dar a sua forma preenchendo o vazio. Esta é a oportunidade de trabalho, e a partir daí, de sua própria edificação.

e havia trevas sobre a face do abismo; a luz irradia pelo infinito. Deus é luz, Deus é amor; deste modo a luz é anterior a tudo. Porém em nosso universo material e devido aos nossos sentidos adaptados a este universo a luz expressa-se nas trevas. É preciso a treva para que ela reflita. A luz precisa de seu oposto para manifestar-se. Do mesmo modo é a relação entre bem e mal.

Na criação de nosso orbe a treva sobre a face do abismo expressa o caos inicial quando os elementos ainda estavam em confusão.14 Pouco a pouco cada coisa tomou o seu lugar.

Na intimidade do Espírito se dá do mesmo modo, antes da revelação crística em nós reina as trevas, após a absorção da Luz, que representa o entendimento da Revelação, apaga-se a noite do desequilíbrio que gera a desarmonia.

havia trevas sobre a face do abismo; e o Espírito de Deus se movia sobre a face das águas.

Passam-se milhares de anos… desde a terra sem forma e vazia [o princípio de formação planetária , momento em que os técnicos espirituais sob a coordenação do governador planetário iniciam a construção do orbe físico], até o princípio da vida orgânica com o surgimento do protoplasma.

OS PRIMEIROS HABITANTES DA TERRA

Dizíamos que uma camada de matéria gelatinosa envolvera o orbe terreno em seus mais íntimos contornos. Essa matéria, amorfa e viscosa, era o celeiro sagrado das sementes da vida. O protoplasma foi o embrião de todas as organizações do globo terrestre, e, se essa matéria, sem forma definida, cobria a crosta solidificada do planeta, em breve a condensação da massa dava origem ao surgimento do núcleo, iniciando-se as primeiras manifestações dos seres vivos.

Os primeiros habitantes da Terra, no plano material, são as células albuminóides, as amebas e todas as organizações unicelulares, isoladas e livres, que se multiplicam prodigiosamente na temperatura tépida dos oceanos.

Com o escoar incessante do tempo, esses seres primordiais se movem ao longo das águas, onde encontram o oxigênio necessário ao entretenimento da vida, elemento que a terra firme não possuía ainda em proporções de manter a existência animal, antes das grandes vegetações; esses seres rudimentares somente revelam um sentido - o do tato, que deu origem a todos os outros, em função de aperfeiçoamento dos organismos superiores.15

Este momento representa a reunião dos elementos que refletem o pensamento de Deus no plano aplicativo (dinâmico), e as unidades psíquicas que já se ajustam ao desenvolvimento natural do orbe neste estágio em que se encontra a evolução.

Os espíritos superiores estão presentes porque há trabalho.

O campo dinâmico do psiquismo desde o psiquismo do homem até uma bactéria estão amplamente conjugados.

Nosso próprio organismo é um ótimo exemplo, existem nele unidades psíquicas que iniciam no processo evolutivo, tudo sob a orientação do Espírito já em fase superior de evolução.

O espírito de Deus se movia é a representação do plano operacional.

Se moviam (dualidade), saindo de um lugar e indo para outro. O plano da caridade através do trabalho é dual.

Face das águas; são os elementos receptores do espírito de Deus. Importância do campo mental na estruturação das realizações, do preparo da “face das águas” para que o espírito de Deus produza algo positivo.

Face do abismo; tipos de elementos que ficam estagnados, como se fosse a unidade psíquica vinculada ao mineral.

Face das águas – movimento dinâmico.

Abismo –profundidade que acolhe os elementos embrionários. (germe)

Temos no abismo dois tipos de elementos:

  • Em evolução normal.

  • Em queda das faixas superiores.

    • O erro, ou o pecado dentro da concepção das religiões, é o mesmo que a queda das áreas superiores do psiquismo para as profundidades do abismo, da consciência para a inconsciência.

E disse Deus: Haja luz; e houve luz.

O Princípio espiritual já vinha sendo trabalhado por milênios para que pudesse absorver a luz através da vida. A luz começa, assim, a refletir sobre a organização planetária. Os Co-Criadores estão trabalhando no andamento da evolução…

E disse Deus; este dizer de Deus representa a Sua Vontade Soberana, é o que conhecemos como sendo a Lei de Deus.

É preciso compreender esta vontade superior em cada evento universal e a ela ajustar-se. Deus é Perfeição e Misericórdia, Sua Vontade é assim a realização de tudo o que Ele É. Assim, se estivermos realizando-a nos manteremos no estado de equilíbrio, de paz, de saúde e felicidade.

A dor, a angústia, ou qualquer estado de negatividade é justamente o rompimento com este estado pleno de harmonia.

Mais à frente vamos estudar sobre o surgimento do mal e da desarmonia através do símbolo da “queda do Espírito”. Maria, a mãe de Jesus, que representa o elemento gerador da volta do Espírito a este estado de Ordem assim se expressou:

Eu sou a serva do Senhor; faça-se em mim segundo a tua palavra16.

Esta é a verdadeira senha para a felicidade, para o estado integral de realização de si mesmo. Só a partir deste estado de obediência consciente nos faremos virgens, imaculados, propiciando assim que o “Filho do homem” nasça em nós.

Haja Luz. Podemos dizer que este é, pelo menos cronologicamente, o primeiro mandamento de Deus. Nele está contido o amor a Deus e ao próximo. Trata-se da realização de toda positividade, do plano operacional do Criador.

Fora do tempo, quando da criação primária, representava a manutenção da Ordem e do Equilíbrio, o viver na Harmonia Celestial.

Com o surgimento da matéria, do tempo e do espaço, há um desmoronamento de dimensões, de perda de valores espirituais que se condensam surgindo uma nova realidade.

A consciência é esquecida…17 perde-se a autonomia, passa a vigorar o determinismo das faixas iniciais da evolução.

A partir daí surge a necessidade evolutiva que nada mais é do que realização de potenciais latentes, reconstrução da Ordem original, volta ao Bem através da espiritualização. Sobe-se ganhando consciência, diminui o império do determinismo na medida do progresso do Ser, surge o livre arbítrio nas faixas hominais…

Quando Jesus, o Revelador de Deus, diz: brilhe a vossa luz18, ele sintetiza de forma magistral todo este processo evolutivo. É vossa luz porque é a de cada um, que se apagou, e que resplandecerá na realização da Lei de Deus na medida da conscientização individual através das boas obras que glorificarão o Pai pela consumação de Sua Vontade.

Tudo isso é obra dos milênios, trata-se da realização do mandamento, é o e houve luz”. É passado, porque no Campo Mental do Criador já aconteceu, para nós representa o futuro, a reconstrução do Elo Perdido com Ele.

E viu Deus que era boa a luz; e fez Deus separação entre a luz e as trevas.

E viu Deus que era boa a luz; passa-se o tempo, neste passo já estamos a uma boa distância em termos de tempo do segundo versículo.

O Eclesiástico nos lembra:

Quando no princípio o Senhor criou as suas obras, assim que foram feitas atribuiu um lugar a cada uma.

Ordenou sempre a sua atividade e suas tarefas pelas gerações.

Elas não sentem fome nem cansaço e não abandonam suas atividades.

Nenhuma delas jamais se choca com a outra e jamais desobedecem à sua palavra.

Depois disso o Senhor olhou para a Terra e a encheu com os seus bens19

Não conseguimos alcançar toda grandeza da Criação Universal:

Tudo isso é o exterior das suas obras, e ouvimos apenas um suave eco. Quem compreenderá o estrondo do seu poder?20

Viu Deus que era boa a luz; a luz precisava de passar por um processo de adequação.

Importa que cada coisa venha a seu tempo. A verdade é como a luz: o homem precisa habituar-se a ela, pouco a pouco; do contrário, fica deslumbrado.21

A expressão viu Deus que era boa a luz, ou viu Deus que era bom, repete-se várias vezes no texto, designa também o plano de Qualidade Total na criação divina. Como também em Gênesis, 1: 31:

E viu Deus tudo quanto tinha feito, e eis que era muito bom…

Podemos aqui pensar em contradição já que a luz vinda de Deus só pode ser boa; entretanto, é bom compreendermos que estamos no relativo onde esta “boa” luz pode ser transformada em nós em trevas:

Se, portanto, a luz que em ti há são trevas, quão grandes serão tais trevas!22

Como? Se recebermos algo do Alto, e não o aplicarmos no desenvolvimento do Bem, se não damos um fim útil ao que detemos por extensão de misericórdia, estagnamos a luz, colocamos sobre ela algo que a impede de manifestar-se, a luz que há em ti são trevas…

e fez Deus separação entre a luz e as trevas. Luz e trevas são duas forças que estão presentes em toda realidade universal, são forças que mantêm o equilíbrio do universo em sua linha dinâmica.

É preciso caminhar com tranquilidade e segurança. Se isso compreendermos vamos desvinculando-nos das pressões, das crendices, pois luz e trevas fazem parte do andamento natural do universo, temos que realizar no âmbito do possível, sem, no entanto, deixar de usar de misericórdia.

Não podemos, deste modo, termos a pretensão de acabar com a treva, é preciso trabalhar com o que chega até nós, não vamos resolver todos os problemas do mundo, mas estaremos contribuindo se agirmos pelo Bem na faixa que nos diz respeito e com o que vem até nós.

Na criação original temos a unidade existente dentro do processo natural, aqui acontecem separações vibracionais, separações de matérias diferenciadas, plano físico e plano espiritual, componente físico e psíquico.

O despertar espiritual acontece com a luta entre as duas partes. É o conflito produzindo progresso.

Separou a luz das trevas havia a necessidade da busca.

A partir da luz toma-se consciência da treva.

Quando o conhecimento é desperto em nós passamos a visualizar a treva existente na fase anterior, que até então não era percebida. Só a partir deste momento separamos a luz das trevas, é a tomada de consciência.

Na ignorância estamos em treva, porém, devido à inconsciência não percebemos esta treva. Pelo processo de iluminação, isto é, quando surge a luz passamos a visualizar a treva em que estamos imersos. Percebemos a necessidade da busca da autoiluminação, passamos a selecionar, não mais aceitamos o que antes era para nós natural e até fonte de prazer.

Este é o momento em que o Deus imanente ou Cristo interior separa a luz das trevas, é o fechamento daquele ciclo, “dia primeiro”. Houve uma “tarde”, amadurecimento relativo à fase anterior, e uma manhã, uma nova proposta que se inicia.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro.

E Deus chamou à luz Dia; e às trevas chamou Noite. Já existe aqui um amadurecimento onde se pode nomear as coisas. Luz ganha um nome, dia; treva, noite. Os dois se alternam como num processo de gestação do próprio amadurecimento. É nesse fluxo e refluxo que o Ser evolui e se autoilumina.

A luz é o momento em que recebemos do Alto, para aplicarmos em baixo [trevas] que é o campo operacional. Dinamizando nas trevas alcançamos mais condições de receber mais luz. Ou seja, a luz é constante e sempre presente, quando nos capacitamos e fazemos com ela sintonia a refletimos melhor. [é como quando liga-se o interruptor]

Estamos em um ponto onde a Unidade inicial se decompôs surgindo a dualidade. A partir daí temos: luz e treva, bem e mal, dia e noite, amor e ódio; entretanto, não foi assim desde o princípio.23

Notemos que este é o único momento desta narrativa inicial onde não é dito “e viu Deus que era bom”, talvez por ter havido o rompimento com a Unidade, rompimento este que é temporário, passará, tempo e espaço fazem parte de um instante transitório, só a eternidade prevalecerá.

Passará o céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão.24

Podemos concluir então, que os fatores positivos são absolutos, os negativos relativos, transitórios; estes últimos serão um dia absorvidos pelos primeiros, são materiais didáticos necessários ao processo evolutivo, quando perdem a finalidade deixam de existir.

É preciso compreender que a “luz” sempre existiu, há luz inclusive na intimidade da “treva”. Nesta é como se houvesse um “congelamento” daquela. Ela está lá, quietinha, aguardando que o calor das emoções, que a luta gerada entre os polos da dualidade a descongelem, isto é, criem campo propício para que ela se manifeste.

Em nosso Universo há a necessidade da treva para que a luz se manifeste, não conseguimos perceber esta se não houver aquela, mas isso acontece porque este é um Universo de imperfeição, gerado justamente por esta separação. Na Criação original, na Perfeição do início, no mundo plenamente espiritual o qual só podemos conceber pelo pensamento25, há manifestação de luz sem treva, é o Reino dos Céus de que falou Jesus. Viemos dele e para ele caminhamos.

E foi a tarde e a manhã, o dia primeiro. A manhã significa o momento de nossas concepções, é o estado inicial do entendimento.

Aprendemos com nosso querido e saudoso Honório Abreu que “no plano das percepções temos tomado conhecimento, identificado mecanismos, sistematizado, coordenado, encaminhado no processo evolucional que tange nosso campo de dedução após a manhã, nunca na manhã.

Assim, tomamos o conhecimento sempre dos fatos à tarde, no próprio contexto observador do nosso despertar, nunca somos causa sempre efeito, somos preparados, amadurecidos, para depois tomarmos conhecimento. E no contexto geral somos observadores, só tomamos conhecimento do que já existe. Em relação ao início, à gênese, na realidade nós somos espectadores. Só temos a percepção dos eventos após estes terem acontecido, mesmo que seja fração de segundos depois. Dentro desta ótica somos sempre co-criadores, só Deus é o Creador26 de todas as coisas.

Assim, compreendemos o porquê de na narrativa bíblica a tarde vir antes da manhã. É que existe sempre algo anterior àquilo que percebemos como princípio. O dia bíblico começa com a tarde, mas não podemos deixar de entender que sempre existiu uma outra manhã anterior, sempre haverá uma manhã, um início que não conseguimos alcançar. É o que compreendemos do que não podemos compreender: a eternidade.

E disse Deus: Haja uma expansão no meio das águas, e haja separação entre águas e águas. E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi.

E disse Deus; é a atuação sempre presente do Criador orientando e ordenando tudo com Sua Sábia Vontade. Vontade esta capaz de agir sabendo todas as necessidades que adviriam no infinito dos tempos.

Haja uma expansão no meio das águas; os antigos semitas criam que acima da terra e dos céus havia uma camada sólida que retinha as águas superiores, talvez por isso alguns tradutores usaram a palavra “firmamento” ao invés de expansão. Porém, para definir o que a genial intuição dos iniciados hebreus captaram, expansão fica melhor se observarmos os conceitos científicos atuais.

Se projetarmos este acontecimento para além da formação de nosso orbe, pensando na formação do Universo físico de um modo geral, não afirmam os estudiosos do assunto que após a “explosão” inicial entrou nosso mundo num processo de expansão?

Esta onda expansionista que persevera até hoje, segundo a comunidade científica, foi percebida intuitivamente pelos médiuns da literatura bíblica e expressam com segurança o impulso criador do princípio.

As águas inicias seriam assim, a Substância Divina original com que o Criador fez todas as coisas.

e haja separação entre águas e águas; mais uma vez podemos citar aqui a separação que originou a dualidade. Surgem dois ambientes em dimensões distintas, o Céu representando o Universo Espiritual que é pré-existente e sobrevivente a tudo, e a terra representando o Universo material que é finito e se extinguirá um dia.

As águas representantes do universo material se condensarão ainda em inumeráveis dimensões o que por sua vez gerarão as galáxias, os sóis, planetas, e também as dimensões espirituais diversas que conhecemos como Plano Espiritual…

E fez Deus a expansão, e fez separação entre as águas que estavam debaixo da expansão e as águas que estavam sobre a expansão; e assim foi. As águas debaixo da expansão definem o elemento material já mais denso, entretanto sutil em relação à matéria no estado em que conhecemos. O verbo “fazer” fala-nos de uma ação que aqui devemos atribuir aos Espíritos, já que Deus não exerce ação direta sobre a matéria.

Deste modo, podemos ver neste passo, já muito tempo depois, a atuação dos Técnicos Espirituais, os Co-Criadores em plano maior, aqueles Espíritos que operam em perfeito ajuste à Vontade Soberana da Inteligência Suprema, trabalhando com o elemento material formando os mundos necessários à evolução do Espírito em seu caminho de retorno ao Pai.

E chamou Deus à expansão Céus, e foi a tarde e a manhã, o dia segundo.

Este segundo ciclo da criação é marcado como aquele em que surge a dualidade.

Céu, assim, representa o Plano da Perfeição, o Mundo do Puro Espírito, é para nós, em nosso estágio de evolução, um desafio, sabemos que existe, mas não o compreendemos. Qualquer coisa que falarmos a respeito não passa de mera suposição.

Para facilitar a nossa compreensão vamos formando concepções no plano mental e criando dimensões superiores às nossas, de acordo com estagio evolucional de cada um, e assim ampliando no relativo o nosso entendimento. Talvez por isso o redator bíblico fale em céus no plural significando a imensidade de dimensões de acordo com a compreensão de cada um.

Na casa de meu Pai há muitas moradas27

E disse Deus: Ajuntem-se as águas debaixo dos céus num lugar; e apareça a porção seca; e assim foi.

A expressão ajuntem-se as águas nos mostra que após a separação há novamente um ajuntamento. Esta passa a ser a mecânica cósmica, o respiro do Universo, expansão e contração…

A matéria fluídica - águas debaixo dos céus - vai se condensando e formando a porção seca, a terra propriamente dita. Tudo sob as ordens do Pai e a orientação dos Espíritos superiores. E assim foi, e podemos dizer que assim é até hoje no sentido de que toda proposta positiva de criação e atuação do Bem vem do Alto, nós somos meros instrumentos da Vontade Soberana do Criador e de Seus prepostos espirituais para que o equilíbrio do Universo seja restabelecido.

Todo o Cosmos, o físico e o espiritual, o que conhecemos, o que julgamos conhecer, e o que não temos a mínima noção, vive imerso numa Lei Única, esta Lei em última instância é Amor.

É importante conhecermos todo este processo de criação pois daí podemos depreender consequências morais de largo alcance. O Bem, que é fruto do amor dinamizado, é expressão que verte do Criador para nós, é, como se pudéssemos dizer, o alimento essencial do Espírito. Daí a necessidade, mesmo que inconsciente, de o buscarmos sempre, de termos a intuição de que o devemos praticar. A ética é o Bem segundo o nosso alcance espiritual, à medida que evoluímos ela evolui. Só através de sua prática nos ajustaremos a Deus vivendo em harmonia. Não é por outro motivo que sentimos que somos mais felizes doando do que recebendo, e que só há saúde e paz se a este contexto superior nos adequarmos.

E chamou Deus à porção seca Terra; e ao ajuntamento das águas chamou Mares; e viu Deus que era bom.

Há matéria e matéria, matérias em várias dimensões. A ciência moderna comprova que há o elemento material tão quintessenciado que para nós é como se não existisse.28

O redator bíblico por via da intuição espiritual captou a informação de que parte da matéria extrafísica se condensou formando a terra, ou o que conhecemos como os continentes; outra parte menos condensada formou os mares, os rios, os lagos, mostrando-nos que mesmo em dimensões parecidas há diversidades de estados em que a Criação do Pai se apresenta.

Tudo tinha um propósito, mesmo após a separação da Unidade inicial, a presença do Criador se faz em todo o Universo gerenciando através de sua Lei, fazendo com que tudo se adapte à Nova Ordem com objetivos superiores de evolução. É o plano de Qualidade Total de Deus que os iniciados hebreus perceberam e grafaram: e viu Deus que era bom.

Esta expressão define a presença de Deus em todas as fases da vida, é o acompanhamento do Criador em relação à Sua criação. Dentro de nossa ótica acanhada [não esqueçamos que quem escreveu isto foi o redator do Gênesis] é como se houvesse uma avaliação por parte Dele.

Tudo vindo de Deus é bom. Mesmo que não compreendamos a finalidade tudo tem a sua razão de ser dentro da Contabilidade da Vida. Às vezes não compreendemos as aparentes derrotas, as dores, as separações, e tudo o que nos traz sofrimentos. Se hoje vivêssemos este início de formação planetária acharíamos que tudo era um caos, que ali haveria ausência de Deus, entretanto, nada disso é realidade. Deus está presente em toda Criação. Mesmo se existisse o inferno como pregam algumas religiões, ali também haveria a presença de Deus. Aliás a doutrina espírita nos ensina que nas regiões de maior treva do Mundo Espiritual tem a presença constante de Espíritos de elevada condição evolutiva trabalhando em nome da Luz.

Assim, não nos aquietemos em excesso se o momento atual é desfavorável aos nossos desígnios, há a Presença Divina em nossa vida constantemente, e se viu Deus que era bom, que assim se desse, é porque esta é a melhor forma de acontecer para a nossa recomposição íntima.

 

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1 KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos, questão 22, 50ª ed. Rio de Janeiro, FEB, 1980

2 Kardec, 1980, Questão 621. a)

3 Gênesis, 3: 19

4 Cf. 1 Coríntios, 15: 45

5 CHOURAQUI, 1995, pág.31

6 XAVIER Francisco C./ Waldo Viera / André Luiz (Espírito) Evolução em Dois Mundos, Cap. 1 1ª Parte, 13ª Ed. Rio de janeiro, FEB, 1993,

7 XAVIER, Francisco C. / Emmanuel. A Caminho da Luz, 10a ed., Rio de Janeiro, FEB, 1980.

8 KARDEC, 1980, Questão 536, letra b

9 Hebreus, 11: 1

10 1 Coríntios, 13: 9

11 KARDEC, 1980,questão 36

12 Idem, Ibidem, questão 46

13 Id., ib., questão 44

14 Id.,ib., questão 43

15 (XAVIER F. C. / Emmanuel (Espírito), 1980), cap. II

16 Lucas, 1: 38

17 KARDEC, 1980, questão 621 item a)

18 Mateus, 5: 16

19 Eclesiástico, 16: 24 a 29

20 Jó, 26: 14

21 (KARDEC, 1980) questão 628

22 Mateus, 6: 23

23 Mateus, 19: 8

24 Marcos, 13: 31

25 Cf. (KARDEC, 1980), questão 26

26 Palavra muito usada por Huberto Rohden em se referindo a Deus. Segundo este respeitado escritor e filósofo “Crear” é a manifestação da essência em forma de existência, enquanto criar é a transição de uma existência para outra.

27 João, 14: 2

28 Cf. (KARDEC, 1980), questão 22